quarta-feira, 8 de junho de 2016

Projeto de Literatura: Da oralidade à escrita, trabalhando o Cordel em sala de aula


Recebem o nome de Literatura de Cordel as obras que são produzidas pelo povo.  Essas obras não chegam a produzir um determinado nível artístico, mas contribuem para difundir popularmente as artes folclóricas. Nesse tipo de Literatura, são cantados os costumes, as crenças ou os personagens (reais ou imaginários) populares.  O Cordel recebe este nome em decorrência dos livros ficarem expostos em barbantes e presos por prendedores.


Inicialmente, a Literatura de Cordel foi trazida para o Brasil, no século XIX pelos portugueses e, aos poucos, incorporou-se à cultura nacional, sendo hoje amplamente recorrente no Nordeste, mas também utilizada no ambiente escolar, no país inteiro, para estimular o gosto da leitura, o trabalho coletivo e a valorização das práticas culturais.
As obras de Cordel se caracterizam por livrinhos de capas coloridas, desenhos de traços fortes, podendo utilizar o verso ou a prosa, tratar os temas sob uma abordagem séria ou cômica e, inclusive, as histórias ali presentes se relacionam com as histórias orais, pois muitas vezes, podem ser acompanhadas de violas e recitadas em praça, pelo autor, com a presença do público.
Desta forma, a Literatura de Cordel, tanto pelos temas quanto pela forma de execução se apropria de elementos próprios da oralidade, sendo possível aliar a prática do Cordel com demais textos, de outras culturas, mas que carregam a marca do oral e do folclórico.


Pensando nessa perspectiva, durante o 1º bimestre desse ano letivo, a professora Ana Claudia Brida, nas aulas de Literatura do 1º ano do Ensino Médio, período matutino, na E.E.M.J.P. dos Reis Veloso, desenvolveu um projeto de produção de Literatura de Cordel aliada ao conteúdo proposto para a disciplina pelos Referenciais Curriculares da Educação do Estado de Mato Grosso do Sul, intitulado “Projeto de Literatura: Da oralidade à escrita, trabalhando o Cordel em sala de aula”. O conteúdo do bimestre prevê o ensino dos gêneros literários (a saber: o gênero lírico que são os textos feitos em versos; o gênero dramático que são as peças teatrais; e o gênero narrativo que corresponde aos textos feitos em prosa), além disso, a prática de leitura e produção textual são os principais quesitos de progressão avaliativa dos alunos, nesta matéria; assim sendo, a professora apresentou uma proposta diferenciada para aliar o conteúdo dos gêneros literários, o estímulo à leitura através de uma obra clássica e a produção da Literatura de Cordel.


Num primeiro momento, foi realizada a explicação a cerca do conteúdo dos gêneros literários. Em seguida, os alunos realizaram rodas de leitura coletiva da obra “As mil e uma noites”. Foi selecionada essa obra da cultura árabe, pois além da sua estrutura composta de contos, pertencentes ao gênero narrativo, a mesma surgiu, a princípio, de lendas e da tradição oral, até os contos se anexarem para a formação de uma obra escrita, que trata de histórias repletas de elementos fantásticos e, na maioria das vezes, utilizando-se de desenhos que ilustram cada narrativa.  Os alunos realizaram a leitura e o processo foi bastante interessante, pois demonstraram grande fascínio pelo conhecimento de uma cultura tão diversificada e participaram ativamente com questionamentos e debates.
Em um segundo momento, a professora ministrou uma aula com utilização de data-show apresentando o que era Literatura de Cordel, trazendo exemplos e relacionando as histórias das “Mil e uma noites” com as histórias de Cordel. Feito isso, as turmas foram divididas em grupos de três a quatro indivíduos, e foram orientados como deveriam montar, cada grupo, o seu Cordel. Os alunos foram direcionados às obras e sites que explicavam na elaboração do Cordel e a professora também selecionou a temática. Os alunos poderiam se inspirar nas histórias das “Mil e uma noites” e, a partir delas, elaborar suas próprias histórias, sobre as tradições folclóricas nacionais ou a cultura sul-mato-grossense, em prosa ou verso. Estabeleceu-se, por fim, um prazo para que os grupos realizassem o trabalho de forma pertinente. Foi solicitado também aos estudantes para estilizarem os prendedores, a fim de tornar a exposição ainda mais atraente ao público.

Após o prazo estipulado, os grupos entregaram os cordéis e prendedores, que, primeiramente, foram avaliados, como parte essencial da nota bimestral de Literatura. Na etapa final do processo, os cordéis foram pendurados em barbantes nas salas de aula e convidaram-se os colegas da mesma sala e de outras salas para prestigiar o trabalho dos estudantes. Os demais professores, coordenação e direção da escola também foram convidados.  O trabalho permaneceu exposto na escola para que os outros turnos de estudo também pudessem ver as atividades desenvolvidas.
O resultado do trabalho foi bastante satisfatório, pois estimulou a participação e o convívio entre os estudantes, firmando, entre eles, laços de amizade; desenvolveu a autoestima dos alunos, pois ficaram orgulhosos de seus trabalhos e queriam que todos vissem o que haviam elaborado; contribuiu para o estímulo da leitura e para a valorização da disciplina de Literatura, pois além dos trabalhos bem feitos, durante a avaliação bimestral, ficou visível que os alunos conseguiram apreender bem os três conteúdos (gêneros literários, “As mil e uma noites” e Literatura de Cordel) e o rendimento foi excelente, pois a maior parte da turma alcançou boas notas.


Com esse tipo de atividade, realizada durante as aulas, vê-se claramente que o objetivo da escola em ser uma escola pública e de qualidade, de fato, tem se efetivado e contribuído para aumentar o interesse dos alunos pelas aulas e até mesmo pela instituição de ensino.

Bibliografia:
LADEIRA, Julieta (Adapt.). As Mil e Uma Noites. Série Reencontro. 12ªed. São Paulo: Scipione, 2003, 128p.
RAMOS, Rogério de Araújo (Ed. Resp.). Língua Portuguesa. Ser Protagonista. Vol. II. 2ªed. São Paulo: SM, 2013.
Cordel. Disponível em: http://www.ablc.com.br/cordeldavez/cordeldavez.htm. Acesso em: 23 jun 2008.
Literatura de Cordel. Disponível em: http://www.tg3.com.br/cordel. Acesso em: 23 jun 2008.