Mário de Sá Carneiro
A angústia existencial é o tema constante e obsessivo da obra de Mário de Sá Carneiro (19/05/1890 – 26/04/1916). Esse escritor jovem, abastado e formado em Direito mergulhou profundamente dentro de si mesmo, numa dramática e alucinante exploração de seu mundo interior, que acabou por levá-lo à crises de depressão, uso de drogas e ao suicídio num quarto de hotel. A sensação de ser um “estranho” no mundo é uma tônica em seus versos.
>>> OBRAS:
- Princípio (novela) 1912;
- Dispersão (poemas) 1914;
- A confissão de Lúcio (narrativa) 1914;
- Céu em fogo (contos) 1915;
- Diversos poemas e cartas a Fernando Pessoa.
A Confissão de Lúcio
Essa narrativa algumas vezes caracterizada como um conto ou um pequeno romance contém três das obsessões dominantes na obra de Mário de Sá Carneiro: a morte, o amor pervertido e o anormal avançando até a loucura. A história começa com o seguinte argumento: comete-se um crime que é o assassinato de Ricardo de Loureiro. Cumpridos dez anos de prisão, retirado do mundo, Lúcio, o suposto assassino, finalmente faz sua confissão... de inocência. Esse fato gera estranheza ao leitor, pois desde que o mundo é mundo confessam-se culpas e não inocências. Lúcio apresenta-se como um estudante de Direito na vibrante Paris do fim do século XIX e escritor em formação. Lúcio reencontra um companheiro, de nome Gervásio que o leva a conhecer a Paris das festas e orgias. Numa dessas festas, Lúcio conhece Ricardo de Loureiro, reconhecido poeta português, e imediatamente tornam-se grandes amigos. Ricardo, mesmo apaixonado por Paris, retorna para Lisboa e os dois conversam apenas por cartas extremamente sucintas. Numa das cartas, Ricardo menciona uma mulher, de nome Marta, que afirma ser sua esposa. Devido à causas materiais, Lúcio regressa para sua terra e vai ao reencontro do amigo, conhecendo a linda e loura Marta, mulher de ar misterioso, envolvente, que o deixa fascinado. Aos poucos, completamente envolvido por ela, acaba por iniciar um romance clandestino, pleno de sensualidade e paixão, traindo seu grande amigo. Outros amigos de Ricardo passam a frequentar sua casa, em especial, um conde russo chamado Sérgio Warginsky, por quem Lúcio, enciumado, nutre uma antipatia inversamente proporcional ao afeto que Ricardo lhe devota. Cada vez mais enlouquecido de amor e ciúme por Marta e ao mesmo tempo devotando uma amizade doentia a Ricardo, Lúcio passa a suspeitar que ela o esteja traindo com o russo e passa a segui-la, o que o leva a descobrir e confirmar suas suspeitas. Ricardo acaba assassinado, Marta e o russo desaparecem misteriosamente e Lúcio leva a culpa pelo ocorrido. Mas o livro não termina sem deixar dúvidas, ao contrário, porque quem narra o fato é Lúcio, não é possível saber o ponto de vista dos demais envolvidos na trama. Fica um suspense e mistério que enreda o leitor numa telha indissolúvel de indagações.
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